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  • Foto do escritorRaphael Soares

Renato Quirino - Aokigahara

Atualizado: 15 de fev. de 2019

Uma floresta nascida das cinzas vulcânicas, com histórias de pessoas abandonadas séculos atrás e casos recentes e suicídio



Foto: divulgação. Renato Quirino em sua área de trabalho

Quero falar sobre algo sério, posso? Será que alguém vai me julgar por isso? Talvez não, mas… quem sabe o que os outros a minha volta pensam sobre isso? Bem, o que vou falar acontece e há uma floresta onde vidas desaparecem.

A OMS ( Organização Mundial da Saúde) este ano divulgou na véspera do Dia de Prevenção do Suicídio (10/09) os números de suicídios no mundo entre 2006 à 2016. Seguindo a organização internacional 800 mil pessoas tiram a própria vida, esta é a segunda maior causa de mortes entre os 15 a 29 anos de idade que inclui assassinatos, agressão, brigas, bullying, violência entre parceiros sexuais e abuso emocional chamadas de mortes por violência interpessoal . Portanto podemos descrever o suicídio como uma decorrência dos problemas de convivências e relações entres as pessoas.


A organização avalia os países não individualmente, mas sim como áreas econômicas para considerar todos os fatores demográficos, sociais e históricos, o que gera uma relação com a economia do país e de suas políticas de prevenção.


O Brasil se encontra dentro da categoria de países de renda baixa-média das Américas e a tendência entre esse grupo é 43% dos óbitos decorrentes da violência interpessoal. Um destoante dentro do nosso grupo é que em 60% os crimes envolviam armas e fogo.

No entanto, esse não é um problema encontrado somente em países de baixa renda e não são neles os maiores taxas. o Japão tem uma das taxas de suicídio mais altas do mundo, embora o número de casos tenha diminuído. O dados da OMS indicam que a taxa do país oriental é de 19,7 por 100 mil habitantes, em comparação ao Brasil a taxa é de 6.3. O Brasil se encontra atrás e países como Coreia do Sul, Bélgica, França, EUA, Alemanha e Reino Unido.


Para diversas culturas e religiões o suicídio é mal visto até ao ponto de se tornar um tabu. Mas no Japão esse ato é bem visto principalmente proveniente da cultura samurai existente décadas atrás, tornando-se um feito heroico.


É neste país onde existe uma floresta que cresceu do solo de lava escura da última erupção vulcânica do Monte Fuji no ano de 864. O local era conhecido como Jukai antes de ganhar o nome Aokigahara. Acredita-se que o local era usado para abandonar idosos em épocas de escassez alimentar em secas prolongadas, o costume era chamado de ubasute. Isto resultou na lenda de fantasmas e a floresta começou a ser usadas por pessoas que estão dispostas a abandonar a própria vida.


Com essa atmosfera e temática que os quadrinistas Renato Quirino (arte) e André Turtelli Poles (roteiro) criaram a HQ de mesmo nome da floresta: Aokigahara. Dispostos a transmitir o que se passa nesse Mar de Árvores e o leva uma pessoa entrar e não sair mais de lá.


Vamos entrar...!



Representação de uma placa real da floresta: " Sua vida é um dom precioso de seus pais. Por favor, pense no seus pais, filhos e parentes. Não guarde para si. Fale de seus problemas".


Quando surgiu seu interesse pelos desenhos? Desenha desde criança?

Como outras crianças, eu brincava de desenhar. As outras crianças gostavam dos meus desenhos, e na primeira série eu desenhava escudos de time da NBA pra vender no intervalo. O interesse surgiu nas primeiras moedas!

Qual tipo de influências você teve, mesmo que em pontos pequenos, que te fez entrar nesse trabalho de desenhos?

Não comecei a desenhar por ver outras pessoas desenhando. Eu vejo muitas coisas, algumas que não sei se deveria. Desenhar foi um caminho fácil para ver como essas coisas se parecem do lado de fora da minha cabeça.


Era um hobby no inicio? Quando virou profissão?

Eu nem sei se gosto de desenhar. Em época que não preciso, passo semanas sem um rabisco. Eu gosto genuinamente de criar, desenhar é só mais uma ferramenta. Virou profissão quando eu percebi que gosto menos ainda de outras coisas.


Como você enxerga o mercado de quadrinhos na cidade de bauru?

Acho que não existe um mercado consolidado de quadrinhos nem no Brasil, mas estamos no caminho! Bauru tem ótimos artistas, coletivos, grupos de estudo nas universidades. Projetos muito interessantes saem daqui. Mas não temos um evento fixo no calendário, uma livraria especializada, nada. Viver de quadrinhos em Bauru beira o impossível.


Como é o seu ritmo de trabalho?

Eu enrolo enquanto posso. Quando vejo que não vai dar mais tempo eu viro umas madrugadas, acelero o desenho e rabisco tudo. Que é o que dá o estilo do meu desenho, já tentei fazer tudo com calma e não me senti honesto.


O que chamou a primeira atenção no Aokigahara foi a ambientação, os personagens sem nomes e que por um mesmo motivo vieram a se encontrar na floresta. Por que desses escolhas? No que você acha que leitores iram entender?

O estilo exageradamente detalhado foi pra tentar recriar o clima pesado não só da floresta, mas da pressão de ser um desses dois personagens. Das fotos terríveis que você encontra na internet se procurar pelo nome da floresta, que eu convivi por tempo demais enquanto desenhava. O André (roteirista) é muito gentil. Eu quis criar um lugar horrível pras palavras bonitas dele.


O tema suicídio é pouco abordado dentro das conversas e da sociedade, quase um tabu. Como surgiu a ideia e porque falar dela em uma HQ?

Eu comecei a me interessar por quadrinhos depois de adulto. Nunca gostei de heróis e queria desenhar o que acreditava que ninguém queria ver.

O tema da floresta surgiu de um documentário que assistimos (eu e André) quando trabalhamos na mesma empresa. Achamos uma boa ideia colocar o otimismo dele e minhas loucuras numa história sobre pessoas, com o tema suicídio como pano de fundo.


O documentário foi produzido em 2013 pela equipe da revista eletrônica Vice e estará disponível no final na pagina para você assistir


Por fim a pergunta que dá nome ao meu site: Renato Quirino, porque você desenha?

Acho que algum defeito me fez enxergar nas coisas mais detalhes do que eu precisava, e não tem espaço pra tudo dentro da minha cabeça. Preciso de um pouco do espaço da sua.



O documentário Suicide Forest produzido pela revista Vice foi um dos materiais utilizados como inspiração para o quadrinho Aokigahara. Nele exploramos a floresta com a equipe da revista acompanhados pelo geólogo Azusa Hayano, morador da região há 30 anos e que estuda o solo da floresta.



No Brasil o CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e preventivo contra o suicídio, atendendo gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar. Para mais informações disque 188


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