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  • Foto do escritorRaphael Soares

Rafael Oliveira - Red Door

Atualizado: 15 de fev. de 2019

Abrir a porta vermelha com outras duas pessoas foi o primeiro passo para uma série de outros títulos


(Ilustração: Divulgação) Capa do primeiro volume da HQ Red Door

Você procura por diversão, algo que passe o seu tempo dentro de uma cidade cinza ou apenas uma curiosidade por descobrir novidades? Caso eu fale que depois de uma porta vermelha você pode encontrar tudo isso, você entraria? Saiba que essa é uma escolha e se arrepender dela é total responsabilidade sua.


As HQs do quadrinista Rafael Oliveira apresentam uma característica peculiar: a escolha de fazer ou não algo que sempre trará consequências, mesmo que não de imediato. Como se tudo tivesse uma razão para acontecer “pode demorar alguns dias ou décadas para serem desvendados. Entretanto, um dia você compreende os verdadeiros porquês de determinados fatos terem acontecido”. Trecho do segundo quadrinho autoral de Rafael, Esperança, produzido em 2013, esboça como o autor é: escolheu mudar para a cidade vizinha, escolheu dividir sua vida com outra pessoa, escolheu trabalhar ao mesmo tempo em uma empresa e com produção de quadrinhos.


Rafael também escolheu produzir quadrinhos com outros autores para experimentações e descobrir o que poderia escolher para suas histórias. Como em Folklóricas #2, na qual é o responsável pela arte da obra que explora a cultura brasileira com suas lendas indígenas, para muitos desconhecidas ou esquecidas.


Vemos que desenhar histórias que abordam diversos temas como índios, memórias, ficção científica e velho-oeste americano foi uma maneira dele sair da zona de conforto para assim com Bruno Mutt e Daniel Queiroz criar a série e selo de HQs Red Doors. Nela há uma total liberdade de cada quadrinista para criar ao mesmo tempo em que cada um deles dependia do outra página para continuar com a história.


Uma experiência, uma novidade da cada, uma escolha de cada um.


Vamos começar pelas perguntas básicas. Cara, minha primeira pergunta é quando surgiu seu interesse por desenhar quadrinhos?

Olha, especificamente quadrinhos acho que foi por volta dos 8, 9 anos de idade. Porque eu, como praticamente todo mundo que trabalha com quadrinhos ou gosta de quadrinhos, começou lendo quadrinhos na infância. E comigo não foi diferente. Comecei lendo Turma da Mônica por um bom tempo, mesmo antes de saber ler. Eu lia as imagens e pedia para minha mãe ou prima ler as histórias pra mim. Em seguida, eu passei da Tuma da Mônica para os quadrinhos de heróis, principalmente os da Marvel. Eu lia bastante Wolverine, X-Men. E com isso eu comecei a copiar os desenhos das revistinhas que eu achava fantásticos e eu tentava copiar eles. E a partir daí a vontade de fazer quadrinhos. Mas eu achava muito complicado, muito difícil, porque de certa forma a produção de quadrinhos quando você faz sozinho é muito complicada, porque dá muito trabalho. Além de você desenvolver o roteiro, tem que criar a narrativa, tem toda essa complexidade que é fazer uma história em quadrinhos. Não é tão simples. E por muito tempo eu fiquei adiando essa possibilidade de produzir, porque eu achava que meu trabalho não estava sólido o suficiente, para conseguir produzir. Porque você acaba sempre se comparando com os top 10 do mercado. Pensava: “meu trabalho precisa chegar ao nível de fulano pra eu começar a produzir”. E para o trabalho de histórias em quadrinhos evoluir, você tem que produzir histórias em quadrinhos. Porque você ficar fazendo desenhos soltos, você vai praticar um pouco de anatomia, por exemplo. Mas para aprender a fazer quadrinhos, é necessário praticar fazendo quadrinhos, porque é uma complexidade um pouco maior do que apenas fazer um desenho solto, um personagem qualquer.


Você comentou que lia Turma da Mônica e X-Men. Você acha que naquela idade você teve influência desses quadrinhos e de outros quadrinistas e de outras pessoas?

Na época que eu lia o Wolverine, tinha bastante trabalho do Marc Silvestri, do Andy Kubert também, que eram uns desenhos muito bonitos e eu tenho uma memória afetiva referente a estes desenhos. Então sempre eu procurei trabalhar com uma linha mais clássica de anatomia. Tanto é que cartoon eu não consigo fazer muito bem. Se alguém pedir pra eu fazer caricatura eu não consigo. Porque desde de pequeno meu repertório é um desenho um pouco mais clássico, uma anatomia mais proporcional, mais real. Eu acho que foram desses artistas que eu acabei migrando para esses estilos de trabalho que eu tenho hoje em dia.


Você acha que ao ter contato com esses quadrinhos você acabou desenvolvendo um estilo próprio seu, mais realista?

Eu acho que hoje em dia é o que eu me sinto mais confortável para fazer. As minhas referências atuais são trabalhos de outros artistas de quadrinhos que também têm um trabalho mais próximo do clássico, trabalhos estilizados. Tem um desenhista Frank Cho, tem o Paulo Siqueira, que é brasileiro. E estes artistas trabalham com uma anatomia mais próxima do real, não é tão estilizada, e isso me agrada bastante.


(Foto: Caique Resende) Rafael Oliveira em sua área de trabalho

Você gostava desse estilo desde antes ou foi adquirindo ao longo do tempo?

Não. Eu acho que desde do começo. Tá certo que Turma da Mônica é um pouco mais cartoon. Mas se eu tivesse lido um pouco de Tio Patinhas, talvez eu poderia ter pego o gosto por cartoon, desenhos mais estilizados. Eu acho lindo, acho fantástico, mas eu tenho mais dificuldade para fazer. Para mim, é sair de minha zona de conforto totalmente.

A partir disso, quando seu hobby de quadrinhos, desenhar, virou profissão?

Em 2013, eu resolvi publicar minha primeira história. Primeiro foi uma antologia que passava a respeito da história do Camilo Solano, a HQ “Inspiração”, eu fiz uma historinha que se passava antes da história que ele contava. E fiz a “Esperança” e “O Pagamento” (o prelúdio de Inspiração) e desenhei. Eu me esforcei a produzir e a publicar, mesmo sabendo que não estava bom e que havia muito o que melhorar. Esse era meu objetivo principal: ter um produto pronto, uma história pronta. E desde então, desde 2013, eu tenho publicado de forma anual. Em 2014, a gente começou o projeto na Red Door, que foi muito bom. Em 2015, eu publiquei meu último trabalho autoral, que seria “Momentos”. E desde então eu sigo trabalhando com outros parceiros, roteiristas. E não consegui mais tempo para produzir minhas próprias histórias. Tenho trabalhado mais em conjunto. E desde o ano passado, eu tenho produzido mais pra fora. Fiz uma história pro Alex Mir, que é mercado nacional, mas tenho produzido para o mercado de fora também.



Quais trabalhos de fora você tá fazendo?

Então, eu fiz uma história “Cow Girl Ninja” que acho que lançou pela KickStarter dos Estados Unidos. E eu estou entregando um trabalho atual que se chama Mambazu. O editor, que é o agente que faz a ponte entre nós e os artistas, ele me agência. Então, ele me passa a demanda, eu faço o roteiro e tudo e a gente vai produzindo e vou mandando pra eles. O cliente aprovando, a gente vai finalizando as páginas.


O processo é mais paulatino...

Isso é muito bom e é fundamental. Porque às vezes você faz os layouts das páginas. O layout é bem solto mesmo, só pra você compor as cenas, composição de personagem. É interessante que na parte dos layouts você já vai deixando reservado o espaço onde vai ter os balões, para arte ter um respiro, para de repente o balão não ficar em cima de algum detalhe importante da cena.

Aprovando o layout a gente faz o lápis. Aprovando o “lápis”, que é um final praticamente, a gente faz a arte final. Entre o lápis para arte final não vai ter muita correção.


Entrando já nessa parte política de trabalho, como é que é seu regime de trabalho?

Atualmente eu trabalho como designer gráfico numa empresa, oito horas e meia por dia. Ou seja: meu tempo de produzir quadrinhos é muito pouco. Pra você trabalhar para uma indústria americana, Marvel ou DC, praticamente você teria que produzir uma página por dia de histórias em quadrinho. E é muito puxado. Então, hoje, quando eu entro no trabalho oito e meia, eu acordo cinco da manhã, eu desenho até umas sete horas, sete meia. Aí eu vou pro trabalho e volto, aí eu desenho até meia noite mais ou menos. Então eu acabo tendo que revezar. Meu trabalho CLT com este trabalho de quadrinista.

O que mais pesa nesse ritmo? Atrapalha um pouco nessa questão de você conseguir trazer mais coisas para seus quadrinhos?

Atrapalha, atrapalha no prazo. Porque você tá tentando produzir um trabalho com uma ótima qualidade. Hoje eu consigo fazer três páginas por semana. Para esse tipo de cliente tá sendo legal, mas se eu quisesse entrar no mercado mais pauleiro eu não conseguiria ter ritmo de trabalho, de produção. Então o que mais pesa é o tempo. Eu casei com minha esposa, eu tenho uma casa para administrar, tenho um relacionamento, então isso também acaba afetando bastante. E, hoje, eu só tô produzindo quadrinhos graças a minha esposa, pelo apoio que ela dá para o meu sonho. Porque tem que ser muito compreensiva. Então hoje eu só tô produzindo porque minha esposa acredita no meu sonho e me apoia. E eu acho que isso é fundamental. Não só eu, mas tem um livro do Stephen King eu acho que é "Sobre a Escrita", que ele fala também da importância que a esposa dele foi na vida de escritor dele. Tanto é que ele comenta que ela era a leitora teste dele e ela apoiava muito o trabalho dele como escritor. E outros desenhistas que eu escuto falando em podcasts também tem essa mesma postura, de você ter um apoio da pessoa que está compartilhando a vida com você, isso é fundamental, para você conseguir chegar aonde quer, cara. Se você, antes do relacionamento, conseguiu chegar e depois que entra no relacionamento, ok! A pessoa te conheceu nessa profissão. Agora se você entra no relacionamento e você tem que dividir o trabalho CLT com o sonho seu que é trabalhar com quadrinhos, então a pessoa realmente tem que ser muito compreensiva e te dar esse apoio, que é fundamental.

(Ilustração: divulgação) Primeira página da HQ Red Door

Entrando um pouco nessa questão de Red Doors. A coisa que mais chamou minha atenção é o trabalho em conjunto de três pessoas, em que cada um produz uma página de cada vez, por semana. Como funciona esse trabalho? Como chegaram a essa forma de trabalho?

Eu acho que foi em 2011! Eu comecei a trabalhar numa empresa, e nessa empresa tinha uma equipe de produção de ilustradores, que a gente trabalhava com curso de EAD, que tinha que ilustrar e tudo mais. E eu fiz amizade com duas pessoas, que são o Bruno Mutt e o Daniel Queiroz. E eles também gostavam de quadrinhos e desenhavam. Mas eles tinham mais repertório de mangá. E a gente mostrava o desenho um pro outro. Então eu tive uma ideia, eu vi num blog há muito tempo atrás um cara que desenhava uma ilustração e outra pessoa continuava essa ilustração. E se a gente fizer isso com quadrinhos, né? Vai ser uma experiência bacana e o mais importante: vai forçar a gente a produzir. Porque todo mundo queria fazer quadrinhos, mas nunca achava que tava bom o suficiente para produzir, e ficava naquela zona de conforto. Aí eu fiz a proposta pros meninos e eles gostaram. Então, a gente definiu algumas regras, que era cada um fazer uma página, cada um ter seu estilo da página. E tentar contar uma história que fosse coerente. Que o outro não precisasse ver a página até quando fosse publicada no site. Eu comecei a fazer a primeira página e postei no site. E eles viram e tinham que continuar a história. Então esse foi um exercício muito bom de narrativa e de produção de páginas. Foi isso que alavancou e foi com isso que surgiu os Red Doors.

Havia até um selo de produção da Red Doors

Então aí a gente tava produzindo e publicando no site. A primeira história ficou muito confusa. Acho que durou um ano essa história. E ficou muito sem pé em sem cabeça tudo. Tanto é que a gente acabou não publicando essa história, a versão impressa. Então fizemos o segundo ano da Red Door e com isso a gente definiu a temática da história, que seria história de velho oeste. Então poderia ter história de ação, uma história de suspense, de terror, porém passaria no velho oeste. A gente definiu uma temática. E fora isso a gente fez uma Feira Livre também, nos reunimos e definimos o roteiro. “O que a gente gosta de desenhar?” “Ah, vamos desenhar monstro, eu gosto de desenhar monstro, essas coisas”. Então que tipo de universo acaba combinando com esses personagens. Aí a gente criou mais ou menos o universo como Star Wars, que possibilita você desenhar alienígenas conversando com seres humanos e tá ok. Então surgiu o Feira Livre. A gente definiu, pegamos o roteiro, e definimos cada etapa quem ia desenhar o quê. “Ah então fulano vai desenhar da página 1 a 4, depois vai desenhar da página 15 a 17”. E nós dividimos então as páginas do roteiro. Aí o Bruno desenhou as dele, o Daniel desenhou as páginas dele e eu desenhei as minhas. Compilamos a história e foi nossa primeira publicação impressa do selo Red Doors. Depois pegamos as histórias do selo, que publicava no site e a gente fazia uma compilação impressa também.

No Brasil não é todo mundo que tem acesso à internet, temos uma média de 50% da população sem acesso a ela. Então como fica a escolha de vocês começarem a produzir na internet e depois fazer essa mudança para o impresso.

Realmente. A produção na internet é porque tanto facilitaria a gente ver o projeto um do outro, a página um do outro, e também para ter maior acesso. Porque a gente colocava no site, divulgava no facebook e acabava gerando um engajamento. Tanto é que quando a gente conseguiu participar da primeira Comi Com, que foi em 2014, a gente tava com a mesa lá, com os quadrinhos e as pessoas conheciam. “Ah eu acompanho”. Isso é gratificante. Ir para Comic Com foi uma das experiências maravilhosas que a gente teve em questão de quadrinhos, porque a gente vendia quadrinho um dia para uma pessoa e ela voltava no outro dia “Oh, eu li hein, a história é muito boa, gostei pra caramba da história. Parabéns” E isso é bacana, é um feedback positivo que acaba dando um gás a mais na produção. Porque, produzir quadrinhos, pra quem tem um trabalho diferente, é um esforço que tem que ter, tem que gostar de fazer.


Por exemplo, você produziu, o Feira Livre, Pagamento, Esperança. Cada história tem sua própria peculiaridade. O que você tenta passar paras pessoas? O que você quer que as pessoas entendam com seus quadrinhos?

Falando do Rafael, quando eu produzi meus quadrinhos autorais, tanto Esperança e Momentos, eu sempre quis causar um momento de reflexão nas pessoas, sabe?! Nem que fosse uma reflexão: “é isso, mas eu não concordo”. Mas pelo menos ela refletiu a respeito. Ela não precisa concordar com o que eu estou querendo contar, da história que eu contei. Então, se eu conseguir gerar uma reflexão no leitor, pra mim é positivo, eu já cumpri meu papel como desenhista, como quadrinistas. Esperança é uma história mais curta, que fala a respeito de escolhas, e cada escolha tem as suas consequências. E Momentos mostra o relacionamento de um pai com um filho, que o pai é muito ocupado com o trabalho e o filho quer a atenção dele, para poder brincar, poder se divertir. Então, eu tento nessas duas histórias tento abordar um pouco desse conteúdo que fica subliminar na história, que talvez não fique tão direto, tão objetivo, mas que acaba tendo uma segunda camada de interpretação, que eu penso que as pessoas poderiam estar refletindo a respeito disso.


Algumas dessas histórias tem alguma coisa a ver com a sua vida em algum momento?

Cara, esse do Momento, do relacionamento pai e filho acabou sendo um pouco autobiográfico. Tem a questão do relacionamento do meu pai, da dificuldade de você ter um pouco da atenção dele, porque ele trabalhava bastante, esse tipo de coisa. E acredito que não aconteça só comigo, né? Na verdade, acontece com boa parte das pessoas.


Eu percebi que você usa a relação de quadros ação pra ação, tema a tema dentro do seus quadrinhos. Você usa bastante isso? É proposital? É seu estilo de desenhar? É o que você acha que é mais fácil para você transmitir a sua informação pra pessoa ao invés de você passar a informação somente pelo balão, a passagem de quadro também é importante?

Eu sempre procuro contar umas histórias, as minhas histórias, não sendo muito redundante em questão figura-texto. Eu sempre tento mostrar uma ação e que tenha um diálogo diferente do que a ação. Um exemplo: se o cara tá pegando uma espada eu não vou colar ele falando “agora eu vou pegar uma espada”, pra não ficar redundante. E realmente, as lacunas são o espaço de um quadro para o outro, é onde a imaginação do leitor é trabalhada e essa imaginação, eu acho que é de acordo com o tipo de repertório que o leitor tem. Falam que se você ler um livro a cada ano o livro é diferente por causa da experiência de vida que você vai tendo. Talvez com os quadrinhos seja assim? Eu não sei. Talvez em algumas histórias você pode ler e o impacto pode ser diferente do que você leu no ano passado. Tem muitas histórias bacanas que abordam esse lado humano. Tem uma história que acho que se chama Castelo de Areia, que também é muito boa. E realmente é isso, é um pouco mais reflexivo, é um pouco mais profunda. Tem Retalhos e Maus que são muito boa a história. Desenhando, eu sempre tento deixar uma narrativa simples, que não seja confusa para o leitor e que ele esteja imerso na história.


Você tem alguma experiência engraçada ou marcante no mundo dos quadrinhos? Algum trabalho seu que foi muito reconhecido por um fã que te reconheceu na rua? Ou algum trabalho seu que chegou a algum lugar que você não esperava?

Uma situação que eu fiquei surpreso é de alguém que hoje eu considero meu amigo, o Túlio. Ele acompanhava meus trabalhos pelo Facebook, tudo, até na Red Door, e um dia ele me chamou pelo Messenger e perguntou se eu iria estar na ComicCom e disse que iria me encontrar lá. Eu não levei em tanta consideração, porque normalmente os caras têm outros artistas pra ver. E durante a Comicom, quando a gente tava entrando, tinha aquela fila do pessoal pra entrar, e eu passei e ele me reconheceu, fez questão de me comprimentar, eu o comprimentei, conheci. Isso é muito gratificante. Você saber que tem uma pessoa que mora longe e que acompanha seu trabalho. E, de certa forma, aquela pessoa é seu público, né?! Porque você pode fazer um trabalho e ter pessoas que não são o seu público. Não gostam do seu trabalho, não se identificam com suas histórias. Isso é natural. Tem no cinema, tem em livros, isso é bem comum. Então, é gratificante quando você se encontra com pessoas que se identificam com seu trabalho. Já aconteceu também de uma pessoa vir dar o feedback do “Momentos” e dizer que se emocionou com a história, que também vivenciou este tipo de relação, que não quer fazer isso com o filho, quando tiver um filho, e isso também é gratificante. Saber que a minha história conseguiu gerar um tipo de reflexão no leitor e que ele possa, de repente, mudar algum comportamento e evitar que esse comportamento possa acontecer.

E hoje em dia eu tô trabalhando mais pra fora.Não tenho tanto tempo para produzir meu trabalho autoral. Principalmente porque eu quero migrar aos poucos na produção de quadrinhos até trabalhar apenas com a produção de quadrinhos. E, assim, quem sabe, nas janelas eu conseguir fazer meu trabalho autoral. Porque eu gosto bastante de poder estar escrevendo, criando possibilidades de histórias.

Ainda mais quando você pensa “não sei o que vou fazer”. Você procura referências, e demora. Eu nunca desenhei um leão, tive que desenhar leão. Tem desenho de Jetski, e eu nunca desenhei Jetski. Então isso também, quando você trabalha com roteiro, principalmente de terceiros, te força muito a você sair da sua zona de conforto. Porque se você tá escrevendo uma história e você pensa “ah nessa cena vai aparecer um leão” E na hora de desenhar, você começa e percebe que não sabe desenhar um leão. E você pensa em trocar o leão por um cachorro, porque é mais fácil. Mas você percebe que também não sabe desenhar um cachorro. Então, você tira o animal da cena, porque você tende a ficar na sua zona de conforto. E quando você trabalha com roteiro de terceiros, você tem que desenhar aquilo que tá no roteiro. Então isso te força a sair da zona de conforto.


Pra finalizar Rafael Oliveira, por que você desenha?

Eu desenho porque eu acho que é um dos sentidos que eu tenho como pessoa, de poder me expressar e fazer o que eu gosto, o que me dá vontade. Por um tempo eu pensei que não iria desenhar mais, porque tenho meu trabalho, minha esposa, minha casa, enfim. Mas aquilo ficou me corroendo, sabe? Parece que você tá num sistema, antes de você trabalhar, de você fazer alguma coisa que às vezes você gosta, às vezes você não gosta, e você não tá fazendo nada para você, nada do que você gosta, do que te dá prazer. E claro, quando você junta essa vontade, esse seu sonho e possa ser remunerado por isso, ok, melhor ainda. Então eu acho que eu desenho porque é o jeito que eu tenho de me expressar. Às vezes você tá um pouco ansioso aí você quer desenhar. É o jeito de você dizer que está fazendo alguma coisa de que gosta. Eu tô trabalhando, tudo bem, mas é meu prazer, é uma coisa que me dá satisfação. Você vai deitar na cama e pensar “Poxa, hoje eu desenhei uma página e ficou legal. O meu dia valeu a pena”.




Speed Art - Rafael Oliveira

Por fim uma Speed Drawing do Rafael desenhando o personagem Wolverine da franquia X-men.




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