top of page
Buscar
  • Foto do escritorRaphael Soares

Raphael Mortari - Supernada

Atualizado: 15 de fev. de 2019

Nascemos como qualquer outra pessoa saudável até nos tornamos porcos



(Foto: Raphael Soares)

Como seria viver em uma sociedade controlada por pessoas que ao longo da vida se transformam em porcos? Será que ela é muito diferente da nossa hoje? Ou é uma realidade muito próxima da que se observa no livro de George Orwell, 1984?


Para Raphael Mortari esses pontos convergem em um único ponto, a realidade.

Supernada conta a história de Mano, um rapaz normal que vive sua vida dentro do universo não tão fictício da HQ, na qual ao longo da vida o protagonista passa de um humano comum para um porco, infectado pelas mazelas da sociedade que o cerca. Passando por questões de identidade, crises psicológicas, adoração a nada, empatia a rotina, alergia ao novo, cegueira mental, comodismo, euforia e a revelação, os sintomas do que Raphael chama de “doença do porco”.


Formado na Universidade Paulista (Unip), com 38 anos além de ilustrações e histórias na bagagem, Raphael Mortari em parceria com Daniel Sanchez, produziram sua primeira história em quadrinhos, focada em retratar metaforicamente os valores que existem na sociedade do Supernada, que aparentemente seriam fora da nossa realidade, no entanto o que Raphael imaginou foi: “e se os sintomas da doença forem coisas que eu faço?”.


Com roteiro, arte e diagramação de Raphael Mortari e skecths de Daniel Sanchez, Supernada retrata a manipulação da mídia e a falta de pensamento crítico das pessoas.


Ilustração: (Divulgação) - Capa da HQ Supernada

Quando você começou a desenhar?

Desde criança eu sempre gostei de desenhar, acho que todo quadrinista, ilustrador, tem esse discurso, que mesmo que a gente não enxergue o desenho como um trabalho, algo serio, ele ta embutido ali. Quando moleque com os meus primos que gostavam de jogar bola, ver copa do mundo, mas quando eu ia jogar eu era péssimo, então não tinha a ver comigo. Enquanto eles pediam bola, camiseta de time de presente, eu pedia pra minha mãe caixas de lápis. Nos anos 80 tinha uma caixa de lápis com 36 cores, era muito legal. Então nessa época eu gostava muito de desenhar, como hobby era muito valioso.


Na fase adolescente/adulta eu comecei a trabalhar com coisas nada a ver. Meu primeiro trabalho foi como office boy, com alguns traumas, sempre mudanças tem alguns pequenos traumas. Mas eu sempre desenhava, nesse lugar que eu era office boy tinha a hora do almoço onde todos iam almoçar. Eu entrava às 11 horas da manhã, eu já entrava para trabalhar e a galera estava ou saindo ou não estava lá, então eu ficava umas 2 horas sem acompanhamento. Nesse tempo eu ficava desenhando. Tinha um cara lá que era arquiteto de uma empresa que não existe mais, mas eu ia lá ver as canetas do cara que eram muito boas, mas eu nunca pensei em trabalhar com isso, era hobby.


Qual tipo de influências você teve, mesmo que em pontos pequenos, que te fez entrar nesse trabalho de desenhos?

Tinha um cara na frente da casa da minha avó que eu achava que ele desenha muito bem, ele desenhava o He-man. Só que hoje eu acho que o desenho nem deve ser tão legal assim (risos). No entanto comparado a minha bagagem e da minha garotada da rua, ele era um cara mais velho então tinha mais experiência. De influência da televisão eu acho que o He-man e o Thundercats, eu achava os traços legal, gostava disso. Ganhei da minha mãe uma vez do X-Men, eu não entendi, era um quadrinho muito pra frente pra mim, eu era muito novo, eu não entendia os termos, como por exemplo telecinese. A turma da Mônica não teve influência nem uma para mim, eu não tinha interesse nem em ler e eu tenho um monte de amigos que falam que isso me iniciou. Eu lembro uma pessoa que eu vi desenhando e eu falei “caramba isso é muito foda” , foi a primeira vez eu eu pensei quero desenhar igual a ele. Foi um primo meu que era arquiteto também, ele tinha 25 anos e eu 13 e foi um dia que eu ia para uma consulta dentária e ele morava próximo do lugar. Ele meio que ficou de babá, deve ter sido bem chato para ele. Ele tinha várias revistas do Conan e Hulk, enquanto saia ele me pedia pra desenhar o Conan, dizia que era fácil, pegava um papel começava a traçar e me mostrava: “isso é uma reta, uma curva, tentar fazer”, era como um desenho de observação, você olhar e retratar. É um grande método, eu uso até hoje. Depois disso, falei para minha mãe que eu estava desenhando muito melhor, mas nem tava eu acho (risos). Mas ainda não era algo que me influenciou. O meu primo, o meu tio eles tiveram uma influência forte porque eu via ele fazendo, parecia muito fácil, ”cara dá pra fazer”.


Mas depois dos 20, 25 anos o quadrinho que me influenciou diretamente foi o SimCity do Frank Miller. Por que era uma história adulta de um cara que não tinha poder, aquilo mexeu comigo “eu quero fazer isso”. O quadrinho também tem uma linguagem de cinema, então eu sempre gostei de filme de pessoas normais, com problemas reais, não precisa ser aquele drama de fazer a pessoa chorar, mas um filme como KickAss, com um moleque normal que ganhou placas de metal pelo corpo devido a um acidente. SimCity foi o quadrinho que me fez querer ler quadrinhos adultos. Na infância eu fui caminhando entre essas revistas, mas nada me chamou a atenção.


Quando o hobby virou profissão?

Nos anos 2000 eu fazia um desenhos e umas pessoas me pagavam. Era assim, eu fazia um trabalho super-realista por 10 reais. Eu não sabia o quanto cobrar, isso era um hobby e fazia um trabalho por esse valor, algo muito barato e era um trabalho que me custava o final de semana e na segunda eu levava pro cliente numa cartolina feito na mão. Nesse tempo que eu trabalhava com coisas nada a ver a desenhos, como officeboy, almoxarifado de empresas de auto peças, me formei no Senai como eletricista, trabalhei em usinas na região com trabalho braçal, empresas de medicamento em todos os estágios. Mas sempre participava de cursos grátis de desenho no meio do tempo. Aqui em bauru tinha a Oficina Cultural, grátis e a cada 4 meses eles abriam um mural com todos os cursos e passava lá, me inscrevia em um monte de curso, fiz curso de stop motion e ilustração com o pessoal da Unesp. A Unesp sempre estava envolvida por que eles tinham uma bagagem e me servia como um plus ou um TCC. Naquele época eu sabia que eram alunos me ensinando, mas eram como professores.


Eu tinha casado, me separei, perdi uma casa e também um carro e fui morar com uns amigos, um trio, nessa casa eu pensei vou fazer faculdade, estava com 28 anos. Entrei na faculdade no segundo semestre de designer, fui demitido na empresa que trabalhava há 6 anos, mas mesmo assim continuei na faculdade. Eu lembro que a galera do segundo semestre estava me marcando e eu estava na correria, eu lembro que o professor foi pedir um teste publicitário só para saber como nós estávamos, era do Playmobil. O meu foi um dos melhores e o professor disse eu deveria seguir esse caminho. Assim eu me senti incluso, não estava perdendo tempo mesmo estando no segundo semestre. Nisso eu já arranjei um trabalho numa agência e tudo tipo de peça publicitária meu chefe me acionava, Começou a acontecer, fiquei um ano nesta agência. Uma empresa grande de bauru contratava muito ilustrador, mas até então, eu não tinha visto uma vaga de ilustrador, só de designer e publicitário, nesse momento me orientaram a fazer um portfólio e mandei. Me chamaram para entrevista e aí eu fiquei 4 anos na empresa. A base que eu tenho hoje foi nesta empresa porque tinha muita gente boa que manjava e eu ficava imerso. Nesses 4 anos eu trabalhava mais com ilustração, nesse momento foi quando eu tive que fazer uma estampa pra uma camiseta de um site que precisava de um ilustrador, mandei minha ideia baseada num livro, o 1984 do George Ownell. Tem muitas das coisas que eu penso. Me retornaram e aceitaram, nunca alguém que eu não conheço tinha comprado algo meu (risos).


Antes, entre 2007 e 2010, trabalhei em uma empresa como conferente Nesse meio todo eu não saí direto da empresa e fui pra Unip em 2010, e lá conheci na empresa tinha uma galera do marketing que é amiga minha até hoje, um dia nasceu um concurso no marketing assim: “pra quem quiser mandar os melhores desenhos a gente do marketing finaliza e faz um banner para incentivar a as pessoas, a cultura e tal”. Eu fui um dos escolhidos com o tema da festa junina, assim peguei amizade com os caras do marketing e eles me incentivaram a continuar com as ilustrações, por que eu nunca botei muita fé nisso, nunca achei que fosse viram trabalho. Nessa época eu tinha subido de cargo e cuidava da equipe, entrava meio dia e saía às 22 horas da noite. O que eu sugeri para os caras do marketing? Deixa eu vir na parte da manhã, eu não bato cartão, mas vocês me ensinam a usar os softwares. Eles conversaram com o RH e deixaram, fiquei super feliz. O Robson era um cara que não tem paciência nem uma , mas ele me falava pra usar tal ferramenta e tal aplicativo. Ele, o Guilherme e o Daniel foram os caras que mais acreditaram e que pegaram na mão dizendo que dava pra fazer. Ai eu comprei um computador, comecei a mexer com vetorização. Hoje essa empresa existe, no entanto não é com foco na educação.


Para você como é o mercado de quadrinhos na cidade de bauru?

Bauru é muito fraco. Eu tenho contatos de amigos que abriram agências e possuíam o produto, mas precisam de ilustrações, eles me procuram, mas é muito pouco. O valor aqui na cidade também é muito baixo, o pessoal não quer pagar nada. Na cidade de bauru as pessoas mantêm isso ruim, o ilustrador não consegui pedir mais que um X valor por que ele não vai pegar o trabalho, então todos se vendem um pouco para conseguir ter um retorno, uma parcela. Como tem bons clientes envolvidos com uma grande agência aqui de bauru que me contrata, a verba até sai boa, parece com a de São Paulo, mesmo que seja pontual, um caso por ano.


De São Paulo é bom falar que há grandes editoras e agências que pagam mal, então você não consegue ficar com um trabalho só. Eu trabalho para uma empresa como ilustrador fixo, mas para viver da ilustração é necessário produzir muito, até duas ou mais ao mesmo tempo, como um cronograma. No fim o montante se torna um salário. Independente do trabalho que você faça é muito difícil te pagarem bem, eu já peguem freelas de clientes pessoais. Um cara posto no facebook que possui uma tattoaria e ele precisava de ilustrador, eu e mais pessoas postaram o seu portfólio nos comentários, ele entrou em contato comigo e abraçou a ideia, me pagou um valor legal e para ele estava ótimo, me dando o tema livre sem refração. Há editoras que me contratam mais de uma vez porque cria uma confiança e fidelidade ao ponto de eu até cansar por ser muito técnico, mas as editoras me procuram. Eu nunca entrego fora do prazo, acredito que isso tem a ver com os trabalhos que fiz no passado e de ter que estar na empresa às 7 da manhã, bater cartão. Essa bagagem, essa formação está relacionado a essa disciplina. Como eu nunca entrego depois do prazo eu sempre estou em contato com o cliente, caso eu não consiga eu já informo que terá um atraso. Já aconteceu de eu pedir um dia a mais para o cliente e ele não me deu, eu faço e entrego no prazo (risos). É um desgaste para a mente, além do corpo que fica parado, sentado.



Como é o seu ritmo de trabalho?

Praticamente meu trabalho é em casa, home office, passo a maior parte do tempo em casa. Eu trabalho para uma empresa em São Paulo, como home office, por 8 horas, diria que é uma carga horária normal de empresas. Eu não trabalho no formato CLT, eu sou MEI, eu tenho cadastro no CNPJ, então meu trabalho é emitir notas e eles me pagam mensalmente. Depois das 8 horas eu tenho os meus freelas pra fazer, trabalhando neles durante a semana. Já me aconteceu no último feriado, um colega que mora e trabalha já a um tempo na Alemanha, ele me falou que a sua empresa precisava de um trabalho urgente e ele me chamou para fazer, mas eu não dei muito atenção. Quando ele me chamou pela primeira vez, eu queria dar um tempo para descansar. Na segunda vez que me chamaram avisando que seria urgente e que teria que ficar o meu tempo todo durante dois dias eu resolvi topar, consegui que me liberassem no trabalho convencional durante os dias que eu precisaria, abracei a ideia. Fiz, mandei para ajustes e na segunda-feira entregamos. Durante aquela semana me surgiu um trabalho novo e na semana seguinte ele me pedir outro que era muito maior que os outros dois primeiros, um trabalho com 11 telas. Lá eles te valorizam muito mais até por conta da moeda. Isso mexeu um pouco comigo, aqui no Brasil a gente rala tanto, depois disso comecei a conversar com minha esposa pensando em investir em trabalhos estrangeiros para termos uma base maior como segurança financeira, trabalhar menos, mas com valorização maior do trabalho, por que às vezes chega no final do mês, depois de trabalhar o mês inteiro e a gente estar no vermelho.



A HQ Supernada conta como a degradante sociedade molda a civilização

Um aspecto que me atrai no Supernada foi os sintomas da doença, cegueira mental, euforia no começo, apego ao nada. Algo muito próximo da visão que temos hoje da sociedade. Como você enxerga isso?

Eu sempre fui um cara com pensamento um pouco anarquista, mas eu nunca fui uma pessoa que chega a largar todo o meu conforto para lutar na rua , então eu seja um falso punk, mesmo que eu gostasse disso eu nunca tive coragem, prezando a minha e a segurança dos que estão perto de mim. Sabe quando você tem pensamentos de revolta, mas sempre fica quieto? Eu sou esse cara. Eu tenho esse pensamento de sempre vou perder. Uma vez quando eu fui transferir meu carro a burocracia me fez de idiota, eu lembro que cheguem transtornado em casa, mas guardando para dentro. Comecei a conversar com minha esposa e ela ficou mais irritada do que eu. Por conta do sistema que é tosco e que nós estamos num momento político que eu não consigo acreditar.


Meu pensamento é de que qualquer pessoa que entre nesse sistema político, será apenas mais uma engrenagem dentro do montante e ele vai fazer o que tem que ser feito pelo sistema. Eu sei que é um pensamento que nunca vai acontecer, um dia alguém ir falar que tudo precisa ser renovado relacionado com política e senado e que é necessário começar algo do zero e ser fechada. Vai ter um cara que terá o poder e outros 7 cara que cuidaram das outras vertentes e acabou, não terá mais ninguém . Isso nunca vai acontecer eu tenho certeza, sei que é um pensamento ideológico, utópico. Teve um momento que eu estava lendo muitas coisas pesadas que estavam me fazendo meu, até o momento que eu tive que parar de ler. O próprio 1984, depois que você termina de ler acontece uma frustração, você quer falar sobre com as pessoas, o cara escreveu isso em 1948 e tá acontecendo agora. Depois de 1984 eu emendei Nietz e me fez um mau de verdade quando estudei as ideias dele, tiver que parar com essa leituras.

O Supernada é um pouco de tudo isso que eu penso. Eu tentei fazer um quadrinho antes e não consegui, não tive tempo. O quadrinho era uma adaptação de 1984 do George Orwell, com uma pegada mais podre e futurista. O roteira já estava pronto, porém eu não conseguia produzir, não saia, demorava demais e fiquei mal por não fazer. Eu acordava super animado para o trabalho e para depois voltar para casa e produzir a HQ, mas eu chegava podre. Sentava no sofá, ligava a TV e cochilava. Eu acordava perto das 9 e percebia que não ia rolar. Não tem problema algum em deixar deitar e cochilar no seu próprio sofá, mas eu ficava frustrado. Depois disso eu fui falar com meu amigo Rafael Oliveira ele me disse que eu estava pensado muito grande, “pense numa história de 20 páginas”, imagem e texto, aceitei a sugestão. Abri o word e comecei a pensar na historia… não saia. Comecei a escrever outra história de um moleque que era cinza chamado mono de monocromático e todos os outro personagens eram preto. O Mono iria sofrer bullying, era um moleque que ia se dar mal como todo mundo, mas não conseguia fazer. Voltei pro Rafael e ele me falou o mesmo” pensa nas 20 páginas”. Isso me fez pensar em estágios, por exemplo: eu trabalho, chego em casa e não consigo fazer nada, comecei a pensar que estava doente. Quando comecei a refletir sobre isso eu pensei numa história de um cara doente, mas doente pela rotina. E eu gosto de metáforas, tem filmes que o cara ta narrando, mas o que você está assistindo é outra coisa. Vou contar a história de um cara que está infectado. E se tiver umas doença? E se tiver uns sintomas? E se os sintomas forem coisas que eu faço? Eu comecei a listar, acho que são 8, 9 . Todos os sintomas tem algo relacionado com a minha vida. Quanto a adoração ao nada ou culto ao lixo, por exemplo, eu tinha um amigo na época de banda, o som autoral estava passando por uma mudança muito drástica, na qual o público estava curtindo sons que eu não gosto, o cenário underground estava muito esquisito, nesse momento meu amigo me disse “ isso é culto ao lixo”, algo que as pessoas gostam, cultuam, mas que não vale nada. Defini os sintomas, sabia que era pra ser uma história triste, eu tenho dificuldade pra escrever coisas felizes. A euforia é a loucura do primeiro emprego, você vai morrendo de medo, eu tinha medo de falar com o chefe, mas quando você recebe o salário, vem a euforia, achando que vai resolver todos os seus problemas, mas que na verdade não é isso. Todos os trabalhos que eu passei foram importantes de alguma forma, só que às vezes a gente supervaloriza o trabalho. Eu tenho amigos na minha idade que acham que se saírem da empresa iriam morrer, eu vejo isso. Depois teve a cegueira mental “ sem dúvida é a pior das fases, o indivíduo se torna incrivelmente medíocre”, eu fui total esse cara. Eu trabalhava numa empresa de cargo e que eu queria mudar tudo ali dentro, eu era escroto, lia livros de administração, relações humanas e queria transformar os outros de maneira muito egoísta. Depois que eu saí dessa empresa foi como um descarrego. Quem eu era? Eu havia me transformado.



A adoração ao nada está muito relacionada com a internet. A revelação foi outra fase da minha vida, eu casei e saí de casa brigado com minha mãe, passando muito tempo sem se falar. Quando meu casamento acabou, perdendo meu bens materiais que eu achava super importante, eu entrei numa depressão muito pesada. A única pessoa que eu via que poderia me ajudar era minha mãe. Então a revelação tem muito relação isso, hoje eu me dou super bem com ela, mas eu fico pensando se eu tivesse alimentado isso até a velhice. Imagina você velhinho e alguém fala para você: “ seus pais morreram”. O Supernada fala muito de mim, até coisas eu valorizei e não devia, a maturidade é boa e te faz ver certas coisas diferente de quando você é jovem e tente a ser estúpido e medíocre.


O legal do Supernada é que as pessoas veem muitas camada. A cena do Mano com o guarda chuva foi a última cena que eu fiz porque faltava ligar dois pontos: o chefe do mano era um porcão velho, só que ele ta feliz, está bem resolvido, para ele esta bem ser um porco. Depois eu pensei porque o Mano tá virando um porco se ele está doente e ele ta triste, qual a diferença dos dois? A diferença é que o Mano sentiu as consequências do que ele fez. As pessoas que não se sentiram mal, remorso durante a revelação estão bem para seguir, mas para o Mano teve muito peso a revelação. Eu precisava saber a diferença e não estava no roteiro desta página, então eu escrevo nessa parte: “grande parte da população infectada interpretava esse sintoma como uma espécie de reflexão momentânea” algo como nostalgia.




O que você quer que as pessoas vejam nos seus desenhos ou no próprio Supernada?

Eu não sei. Eu queria que a mensagem fosse dito, quando eu li SimCity, ele tinha uma narrativa muito real, o personagem dizia como estava se sentindo, às vezes ele estava armando, esperando um cara sair e dizia “ era aquilo de novo, aquela pontada no peito, angina”, esse título me fez perceber que o importante era a história, mesmo que o desenho esteja mais ou menos a história será lembrar. Então um livro que eu indico é O Reino dos Malditos, a história é muito boa , os traços são cartunizados. Se você ver na banca talvez você não compre caso seja fã da Marvel, por que é um quadrinho diferente, com uma linguagem europeia. Quando fiz a história queria que as cenas brincassem com o texto. Eu fui dando minhas ideia, chamei o Daniel para me empurrar, para não me fazer desistir do trabalho. Comecei a fazer umas páginas, porém a maiorias dos desenhos foi dele que preparou . A gente não sabia como ia funcionar no começo esse lance do desenho com o texto, eu nunca tinha terminado um quadrinho, então não sabia como ia ficar, mas queria que o impacto fosse na leitura e todo mundo que lê e gosta, gosta muito. Acredito que seja a afinidade de ideia, de ser contra pensamento políticos, de fazer algo diferente, eu não sou um cara de ficar na rua, mas quero mudar as coisas à minha volta, sei que não vou levantar uma bandeira e mudar o mundo, mas tento. Eu queria que o Supernada fosse história para balançar a galera porque foi um exorcismo para mim que tava doente, eu não faço nada, só trabalho. Mas depois eu voltei a ficar doente, é momentâneo, é cíclico, é a rotina, é a novidade.


Por que você desenha?

Eu desenho porque eu amo isso, eu acho que poderia trabalhar a vida toda em várias coisas mas eu não amaria nem uma delas. Eu sou muito grato pela ilustração por conseguir fazer isso, teve um momento em que eu trabalhava uma empresa bem tosca e eu falei isso para um colega meu durante meus desenhos no almoço. Ele olhou para mim e disse: “você desenha muito, tem que trabalhar pra Marvel”. Eu falei “Meu sonho é trabalhar desenhando”, mas eu não tinha um real, estava perdido. Eu vou levar esse desenho pra onde? Eu não tenho faculdade. Saber que eu trabalho com algo que era um sonho é muito gratificante e das pessoas que me falaram “ vá atrás disso, você está perdendo tempo “ eu ouvi muito isso e eu sei que não foi por mal. Talvez em um momento eu tenha entendido isso mal, mas eu sei que não era isso, eu sei que a ideia era “ Rapha tem um caminho aí e você não está seguindo”. Acho que não era pra eu trabalhar 19 anos em um empresa de ilustração, acho que era isso que tinha que ser. Eu tenho uma esposa, filho, nada disso foi um rascunho de vida, tudo isso foi a vida para mim, tomando soco pra perceber se isso é bom ou não. Poder desenhar é quase um benção.



Speed Art - Raphael Mortari

Por final, Mortari produz uma ilustração do inspirada em seu quadrinho. Desenhando um algum personagem que teria se desenvolvido naquele mundo um tanto apocalíptico.





47 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page